Quatro considerações sobre a psicologia evolutiva
- o pátio - comunidade
- 21 de jan. de 2018
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Normalmente atribuímos a teoria da evolução à área da biologia e da genética, no entanto a teoria da evolução expande-se para diversas áreas como a psicologia. A psicologia evolutiva é uma área da psicologia onde é visto o comportamento humano e os processos mentais através das lentes da teoria da evolução. Aqui estão algumas coisas a saber sobre esta temática:
1. Os pressupostos da psicologia evolutiva. O primeiro pressuposto da psicologia evolutiva postula que existe uma natureza humana para o comportamento através de mecanismos psicológicos desenvolvidos pela espécie. Em segundo lugar, esses mecanismos surgiram através da seleção natural e são adaptações comportamentais ao ambiente. Por fim, o último (e mais controverso) pressuposto é que a organização da mente humana está adequada ao modo de vida dos caçadores recolectores do pleistoceno (1).
2. Apesar deste determinismo biológico, a teoria evolutiva tem em conta a cultura. Aliás, tem uma teoria própria para a cultura. Os seres humanos evoluíram para possuir cultura. Esta serve como um agregador de pessoas que permitiu a construção do ser biopsicossocial, deste modo o conhecimento adquirido pela espécie não morre com a geração, é passado de geração em geração. Esta função de “arquivamento” de informação permite a adaptação ao meio ambiente. No entanto, esses mesmos mecanismos psicológicos permitem questionar a cultura vigente, alterando-a de acordo com o contexto vigente (1).
3. Essa cultura apenas pode ser adquirida com um mecanismo muito importante nas relações interpessoais: a teoria da mente. Esta consiste na capacidade inferir os estados mentais dos outros, através de um sistema de referências que consiga compreender o que os outros pensam, sentem, desejam, acreditam e duvidam. Este mecanismo surgiu na nossa espécie como forma de sofisticar as suas relações intragrupais e assim dominar as restantes espécies que não possuíssem esses recursos cognitivos (2).
4. A capacidade de inferir o estado mental dos outros também nos leva a desconfiar desses estados mentais. E assim entra o ciúme. Mas como é que ciúme é útil? De acordo com a psicologia evolutiva, os comportamentos são selecionados pela sua utilidade para a espécie e o ciúme aparenta ter essa utilidade. Os ciúmes permitem solucionar um problema reprodutivo, isto é, a ameaça real da traição. Esses sentimentos permitem a criação de um compromisso entre os dois parceiros de modo a permitir a reprodução e a proteção da prole. Claro que quando os ciúmes são excessivos apresentam um enorme problema e podem levar à rutura da relação (3).
Estas considerações permitem ao leitor entrar no mundo da psicologia evolutiva e ver com outros olhos alguns comportamentos humanos e, acima de tudo, perceber que muitos comportamentos que nos permitiram prosperar enquanto espécie também podem ser desadaptativos.
Referências:
(1) Rocha Lordelo, E. (2010). A Psicologia Evolucionista e o conceito de cultura. Estudos de Psicologia, 15(1), 55-62
(2) Caixeta, L., & Nitrini, R. (2002). Teoria da mente: uma revisão com enfoque na sua incorporação pela psicologia médica. Psicologia: reflexão e crítica, 15(1), 105-112.
(3) Costa, N. (2005). Contribuições da psicologia evolutiva e da análise do comportamento acerca do ciúme. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e cognitiva, 7(1), 05-14.
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