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Desenvolvimento individual e relações românticas na adolescência

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    o pátio - comunidade
  • 25 de fev. de 2018
  • 3 min de leitura

O surgimento das relações românticas e da intimidade são uma transição marcante da adolescência com implicações para o crescimento do indivíduo (3). É no final desta fase de vida que os relacionamentos românticos assumem maior significado e estabilidade no tempo (7). A formação de relações românticas e o desenvolvimento da intimidade e da capacidade de compromisso estão entre as mais importantes tarefas de desenvolvimento (2, 4). Nesta temática pretende-se explorar alguns pontos essenciais da relação entre o desenvolvimento cognitivo e emocional do indivíduo e as relações românticas durante a adolescência.


1. Os desafios de desenvolver e manter relações românticas permitem aos adolescentes construir competências de autorregulação/gestão de emoções, facilitadas pela experiência de uma grande variedade de emoções intensas numa relação e da experiência de lidar com a possível rutura da mesma (5, 6). A influência das emoções no pensamento, na perceção e no comportamento podem ser vistas considerando dois pontos de vista: a perspetiva evolucionista, em que uma das funções das emoções é redirecionar a atenção para o objeto ou organismo de interesse; e os "social scripts", que ditam como é que nos devemos sentir e comportar em determinada situação (5). Por inerência, estes aspetos influenciam o modo como os indivíduos vivem as suas relações. Como?


2. No início das relações, é comum os adolescentes experimentarem emoções românticas positivas, dado que os envolvimentos românticos pressupõem uma fonte de apoio, bem-estar e contribuem para o desenvolvimento individual (2). Os estados positivos podem trazer diversos efeitos benéficos para o pensamento e resolução de problemas, incentivando o pensamento heurístico, que envolve a intuição, as expectativas e as generalizações cognitivas (5).


3. Estas características podem ser fundamentais para garantir uma maior estabilidade relacional, uma vez que podem proporcionar uma gestão de conflitos mais eficaz entre o casal. Os adolescentes apaixonados estão também aptos a pensar mais depressa e a ver padrões maiores e mais globais, o que lhes permite responder mais altruisticamente aos outros (5, 6). Além disso, estar apaixonado pode constituir uma motivação, possibilitando aos adolescentes a sensação de se sentirem vivos, além de os tornar mais tolerantes e perseverantes (5).


4. É também na fase da adolescência que os indivíduos começam a desenvolver mecanismos adaptativos para lidar com as suas emoções no contexto das relações amorosas. Crianças que têm experiência em discutir e expressar emoções na infância, aprendendo a controlar os seus impulsos, estão mais aptas a julgar emoções na adolescência (5). Na adolescência pode dar-se também a aquisição de novos processos e capacidades que podem ser importantes não só para limitar o desgaste das relações românticas, mas também para permitir algum espaço válido para crescimento pessoal. Estas competências estão relacionadas com o raciocínio sobre as emoções, designada por inteligência emocional (5).


5. A literatura tem demonstrado que no início da vida romântica, geralmente na adolescência, predomina a paixão, a qual tende a decrescer, com a idade, para dar lugar à intimidade e ao compromisso (1), de acordo com o modelo de Sternberg (8, 9). A paixão está também negativamente associada à duração da relação, sendo este um dado que pode contribuir para compreender a curta duração das relações amorosas nesta fase de vida (1).



Referências bibliográficas:

[1] Ahmetoglu, G., Swami, V., & Chamorro-Premuzic, T. (2010). The relationship between dimensions of love, personality, and relationship length. Archives of Sexual Behavior, 39(5), 1181–1190. http://dx.doi.org/10.1007/s10508-009- 9515-5.

[2] Bouchey, H. A., & Furman, W. (2003). Dating and romantic experiences in adolescence. In G. R. Adams & M. D. Berzonsky (Eds.), Blackwell handbook of adolescence (pp. 313-329). Oxford: Blackwell Publishing.

[3] Collins, W. A., & Sroufe, L. A. (1999). Capacity for intimate relationships: A developmental construction. In W. Furman, B. B. Brown, & C. Feiring (Eds.), The development of romantic relationships in adolescence (pp. 125-147). Cambridge: Cambridge University Press.

[4] Furman, W., & Wehner, E. A. (1997). Adolescent romantic relationships: A developmental perspective. In S. Shulman, A. Collins, (Eds.), Romantic relationships in adolescence: New directions for child development (pp. 21-36). San Francisco: Jossey-Bass.

[5] Larson, R. W., Clore, G. L., & Wood, G. A. (1999). The emotions of romantic relationships: Do they wreak havoc on adolescents? In W. Furman, B. B. Brown, & C. Feiring, (Eds.), The development of romantic relationships in adolescence (pp. 19-49). Cambridge: Cambridge University Press.

[6] Luchies, L. B., Finkel, E. J., & Fitzsimons, G. M. (2011). The effects of self-regulatory strength, content, and strategies on close relationships. Journal of Personality, 79(6), 1251-80. doi: 10.1111/j.1467-6494.2010.00701.x

[7] Matos, P. M., & Costa, M. E. (2006) Vinculação aos pais e ao par romântico em adolescentes. Lisboa: Edições Colibri.

[8] Sternberg, R. J. (1986). A triangular theory of love. Psychological Bulletin, 93, 119–138. [9] Sternberg, R. J. (1998). Cupid’s arrow: The course of love through time. London: Cambridge University Press.

 
 
 

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