Vieses Cognitivos
- o pátio - comunidade
- 13 de mar. de 2018
- 3 min de leitura
Todos nós temos uma opinião sobre algo. Mas o que constrói essa opinião? Serão argumentos construídos dentro de factos suportados com evidência e racionalidade? Ou, por outro lado, os argumentos são construídos através de um sistema de crenças que enviesam as nossas decisões ou opiniões? Pensar sobre estes assuntos é importante para percebermos o nosso modo de pensar e argumentar. Por isso, a temática desta semana centra-se nos vieses cognitivos. Estes são definidos por um padrão de distorção de julgamento que ocorre em situações particulares, levando à distorção perceptual, julgamento pouco preciso, interpretação ilógica, ou o que é amplamente chamado de irracionalidade (1). Existem ao todo 168 vieses cognitivos, mas vamos falar apenas de cinco que consideramos relevantes, com alguns exemplos.

Viés da ancoragem: Imagina que estás a negociar um salário ou a regatear o preço de um objecto. Já reparaste, que quem faz a primeira oferta determina o valor médio, no qual a negociação se baseia, mesmo que o valor inicial seja irrazoável. Isto porque o viés de ancoragem faz com as pessoas que se agarrem à primeira informação que ouvem como algo válido. É por isso que não devemos cingir a nossa pesquisa no google à primeira página e não devemos julgar as pessoas pelas primeiras impressões.
Viés de confirmação: Pensa na globalidade das tuas opiniões e crenças. Agora pensa no fundamento destas. Responde a esta questão: Quantos pedaços de informação contraditória à tua crença é que tens comparativamente a pedaços de informação concordante com o que acreditas? Provavelmente tens mais informação concordante do que contraditória, isto porque o ser humano tende a ler, ouvir ou ter em conta informação que confirma as suas opiniões e crenças, descartando evidência contraditória. Este tipo de viés, quando em grupo, leva a autênticas câmaras de eco e a polarizações de opiniões. Uma boa maneira de contrariar este viés é procurar e discutir com grupos heterogéneos de modo a ter contacto com opiniões e informação contrária ao que acredita. Em certos assuntos (alterações climáticas, vacinas e autismo, eficácia de terapêuticas, segurança de OGM, estilos de dieta, etc.), onde existe um enorme debate, é fundamental ler e procurar revisões da literatura que aglomeram diferentes investigações e evitar estudos isolados, com o risco de fazer “cherry-picking” de artigos que confirmam a tua opinião.
Efeito Placebo: Porque é que há certas terapias alternativas que se sabe cientificamente que não funcionam, mas há pessoas que juram a pés juntos que com elas sim? Provavelmente estão sob o efeito placebo. Isto é, a crença que algo tem efeito vai levar a que as pessoas sintam esse efeito fisiológico. Este efeito explica em parte o sucesso de algumas terapias como a homeopatia e o reiki. É importante ser cético em relação as estas terapias e cingir-se à evidência disponível, mas sem cair no viés de confirmação.
Viés de Saliência: Um dos grandes medos da sociedade ocidental são atentados terroristas. Mas porquê? Afinal é mais provável morrer num acidente de viação do que de um atentado terrorista. Este medo deve-se ao viés de saliência, onde focamos no que é mais gritante e vibrante. Aceitamos os acidentes de carro como uma parte inevitável da nossa sociedade, no entanto, um atentado terrorista, por outro lado, é ele próprio um atentado contra o nosso modo de vida, daí existir um medo irracional. É importante sermos realistas quanto a diversos assuntos e medos na nossa vida. Será que aquilo que receio, penso ou espero é algo realmente provável de acontecer ou apenas é algo que me causa impressão logo penso nisso?
Viés do ponto cego: Falámos de vieses cognitivos e, provavelmente, reconhecem estes vieses nos outros, mas em vocês reconhecem? Se não, estão vocês próprios a cometer o viés do ponto cego, onde reconhecemos vieses dos outros mas não em nós. É importante fazermos uma metacognição sobre as nossas crenças e modos de pensar para que não caiamos nestes vieses.
Os vieses cognitivos não são sinais de limitações cognitivas. São sinais da nossa humanidade, de processos de pensamento que foram evoluindo com a nossa espécie e que, em certas situações, permitem a nossa preservação, mas que, em outras, podem ser entraves a reconhecer a realidade como ela é.
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