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A insustentável (in)certeza de crescer: crise e desafios familiares modernos

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    o pátio - comunidade
  • 4 de fev. de 2018
  • 2 min de leitura

“De tudo ficaram três coisas: a certeza de que estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo; fazer da queda um passo de dança; do medo, uma escada; do sonho, uma ponte; da procura, um encontro.” Fernando Pessoa


Em julho do ano passado foi lançada uma notícia em que a Drª. Maria Filomena Mendes (socióloga) e o Dr. Mário Cordeiro (pediatra) concordavam que, em Portugal, “a família não está em crise, está em mudança”. Quis perceber a que mudança se referiam.

De acordo com a PORDATA, nos últimos 50 anos, o Índice de Fecundidade tem diminuído: em 1960, o número de nados-vivos era de 3,20, enquanto, em 2016, era de apenas 1,36. Tem havido, portanto, uma redução das dimensões das famílias, nas quais há cada vez menos filhos, e adiantavam ambos os especialistas algumas razões: a precariedade laboral, a crise, as condições económicas, o aumento da esperança média de vida. Outros dados demográficos poderiam ser levantados para se concluir o mesmo: os tempos estão mesmo a mudar, o que não é novidade. Interessou-me que este tema pudesse ser pensado de um ponto de vista também psicológico, em que a (in)certeza serve como motor para crescer num mundo moderno.

A família é uma estrutura dinâmica. Se desde a pré-história que a noção de família muito dizia respeito à família alargada, atualmente esta parece tender a ser vista de forma mais restrita, como microfamília – a mãe, o pai, a/o irmã(o). Muito se tem falado dos desafios de ser Pai em pleno século XXI, dada a disponibilidade emocional necessária para desempenhar tal papel. Atualmente, ser Mãe ou Pai parece enfrentar desafios diferentes daqueles de há 50 anos, porque houve um conjunto de mudanças no ciclo familiar, desde os papéis masculinos e femininos, ao divórcio, à monoparentalidade, ao prolongamento da dependência dos filhos, ao envelhecimento da população. Ter, criar, educar um filho leva tempo, exige empenho e é um espaço de tentativa e erro. No senso comum, a ideia de que as pessoas têm menos filhos por uma escolha egoísta é, na minha opinião, relativa. Talvez os pais queiram investir o pouco tempo que têm em menos filhos mas com melhor qualidade e seja, afinal, uma questão altruísta. Será possível conciliar papeis?

Nos anos 80, adivinhava-se em muitos países o «fim da família» por fatores económicos, ideológicos e sociológicos. A experiência clínica diz-nos que, entre as mais variadas queixas das famílias em psicoterapia, a matriz dos desentendimentos está, na sua maioria, relacionada com a dificuldade de comunicação. Essa dificuldade de comunicar resulta em constantes desencontros e frustrações das expectativas de compreensão e de resolução. Pedir ajuda especializada nestas situações é, não só legítimo, como fundamental. É preciso não esquecer que a família é a ponte entre o indivíduo e a sociedade: as crises podem e devem ser vistas como oportunidades de crescimento, nas quais a realidade familiar pode evoluir, adaptar-se. Ainda que haja alguns momentos de certeza, e muitos de incerteza, fica o mote para que todas aquelas famílias que estão a passar por uma “crise”, qualquer que seja a sua natureza, procurem encontrar-se nos seus próprios recursos.


 
 
 

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