A Super Nanny, a SIC e a Ordem dos Psicólogos Portugueses entram num bar…
- o pátio - comunidade
- 12 de fev. de 2018
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O que é que acontece? Provavelmente nada. Muito foi falado sobre a Super Nanny nas ultimas semanas. Se por um lado foi muito debatido devido à exposição de uma família e de uma criança em fragilidade, por outro permitiu um debate sobre um aspeto mais profundo da sociedade, a existência destas famílias destruturadas. A crónica da semana passada tocou exatamente nesse assunto, as crises atuais para as famílias modernas. Essas crises existem de fato e podem ser desorganizadoras tanto para a criança como para a família. Isto foi algo que o programa Super Nanny conseguiu demonstrar. Com isto quero dizer que a Super Nanny é um bom programa? Claro que não. Não vou deambular no que já foi dito relativamente à exposição e à da imagem de uma família fragilizada para entretenimento e lucro. Já foi mais que debatido e os argumentos estão à disposição. Vamos antes falar sobre em que posição este programa deixa a ordem dos psicólogos portugueses (OPP) e os psicólogos em geral. É um facto que a Super Nanny era uma psicóloga e também é um facto que ela se apresentava como uma “Nanny”. Nada disto seria controverso se não fosse outro facto, a “Nanny” usava técnicas psicológicas conhecidas nos dois episódios e a população associa esta “Nanny” à psicóloga. Aliás, para proveito desta “ama”, o titulo de psicóloga, conferia-lhe credibilidade, como uma boa falacia de autoridade sem ser explicitamente evocada. Ninguém contesta a validade das técnicas, aliás a psicóloga é reconhecida pela sua qualidade, enquanto técnica de saúde mental. No entanto, a intervenção psicológica existe num setting especifico, com regras, “acordos” e estabelecimentos de relações terapêuticas de confiança e intimidade e acima de tudo privacidade. Bem, a Super Nanny desvirtua esse setting, dando a entender a um “leigo” de psicologia que o espaço e a relação são irrelevantes para a intervenção psicológica. Para além disso, desvirtua a individualidade das famílias, dando a entender que aquelas intervenções podem ser aplicadas de forma generalizada. A Sic fala do efeito pedagógico daquele programa, mas o que se esquece de contar, por falta de conhecimento ou por falta de honestidade, eu dou o beneficio da duvida, é que as intervenções feitas para aquela família apenas servirão para a família intervencionada e para mais nenhuma. As intervenções psicológicas são planeadas individualmente após uma avaliação das necessidades do cliente, seja um individuo ou uma família. Por fim, desvirtua a nossa ordem e o nosso papel, pois apoia-se na ignorância da população em relação à pratica da psicologia para tomarem uma posição contra a OPP em relação ao programa, permitindo a proliferação de teorias da conspiração sendo uma das mais populares a que a OPP e os psicólogos em geral são contra porque o programa fornece um serviço gratuito e por isso está a roubar clientes aos psicólogos. E assim vai o nome da psicologia em Portugal…

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