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As intermitências da Morte como fluxos da Vida

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    o pátio - comunidade
  • 27 de mai. de 2018
  • 2 min de leitura


A Morte é tão certa quanto difícil de abordar. Nas sociedades atuais permanece ainda um assunto tabu, capaz de desencadear intensas emoções negativas. José Saramago referia, na sua obra As Intermitências da Morte, que “A Morte conhece tudo a nosso respeito, e talvez por isso seja triste”. Porque será que nos conhece? De facto, a morte acompanha-nos toda a vida e é parte integrante desta. Hoje, e provavelmente desde há muito tempo, encara-se a morte como um fenómeno para além do momento final da vida. É antes um processo: não apenas biológico, mas também psicossocial. Ninguém vive a sua própria morte, apenas vivemos as dos outros – disse, por outras palavras, o Doutor Victor Cláudio a propósito das questões éticas na morte. É, sobretudo, através dos outros que nos permitimos ou vemos forçados a pensar a finitude da vida.

O medo da Morte está de acordo com a lei da sobrevivência e com a teoria da evolução de Darwin. É do mais básico e primitivo, estando intimamente ligado à nossa existência. E é precisamente por a Morte coexistir com o ser humano desde o início que as Ciências Psicológicas se têm interessado por compreender as questões ligadas a este fenómeno, quer ao nível consciente como inconsciente. Subjacente à ideia de morte surge uma experiência de perda. Mas não se trata de uma perda qualquer – é a perda definitiva do nosso bem mais precioso: a vida. Como tal, pode trazer consigo uma componente depressiva de falta, ausência ou saudade que leva tempo a assimilar; ou o evitamento, a retirada da realidade para se distanciar da dor; revolta, zanga ou qualquer outra reação pessoal, específica de cada vivência; no fundo, obriga que sejam construídas significações para que se possa lidar com ela. Para muitos é qualquer coisa... indizível.

Lidar com a morte é extremamente exigente do ponto de vista psicológico para o ser humano. O mesmo ser humano para o qual a procura de sentido para a vida, ou de uma vida com sentido, é fundamental. Implica uma inteligência existencial (Gardner, 1999) que é difícil deter tal como é complexo e urgente o tema da morte. Talvez seja essa constante dança entre os pares dialéticos Vida e Morte que lhes confere mútua importância: o que seria para nós, seres pensantes, a vida sem a morte e vice-versa? Como escreveu José Barros-Oliveira (2002), “A aceitação da morte constitui certamente um dos maiores sinais de maturidade humana, daí a necessidade duma educação sobre a morte, duma “ars moriendi”, porque a morte, paradoxalmente, pode ensinar a viver.”

 
 
 

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