Modernidade líquida: Verdade ou consequência?
- o pátio - comunidade
- 10 de dez. de 2017
- 2 min de leitura

“Vivemos em tempos líquidos. Nada foi feito para durar”. Foi deste modo que Zygmunt Bauman (1925-2017), sociólogo polaco falecido em Janeiro, descreveu a nossa actualidade. Considerado um dos pensadores mais importantes e influentes do século XX, dedicou-se ao estudo da condição humana, criando o conceito de “modernidade líquida” para reflectir sobre a era contemporânea no que diz respeito à sociedade de consumo, à ética e aos valores humanos, às relações afectivas, à globalização e à política. Descreve-a, em 2001, como uma modernidade caótica na qual um indivíduo se move fluidamente de uma posição social para outra e onde os referenciais morais - a família, a educação, a religião, as ideologias, etc. - são liquefeitos e, assim, perdidos, levando ao individualismo e à privação da ambivalência. Certamente que nos encontramos numa época de competição, de volatilidade, de insegurança e de incerteza - veja-se a crise económica que tem agudizado as diferenças sociais e o receio nas classes menos favorecidas; os ainda actuais e recorrentes atentados(?) que se prolongam desde o início do novo milénio e que têm aterrorizado o mundo; bem como o longo debate em torno do acolhimento de refugiados na Europa que até há bem pouco tempo cobria os noticiários. Em paralelo, diz-se que vivemos numa necessidade intensa de consume, assente numa sociedade onde se valorizam padrões e/ou tendências efémeras, procurando, porventura, a inclusão social ou a semelhança com o outro, muitas vezes mais popular ou bem-sucedido. Contudo, não deixa de ser curioso que nos encontremos simultaneamente num período onde os indivíduos têm vindo a sentir uma crescente vontade de afirmação: a discussão sobre o papel da mulher e a identidade de género nunca estiveram tão presentes no nosso quotidiano.
Como tal, os assuntos contemporâneos parecem surgir no contexto de um mundo fragmentado, de identidades concorrentes e contrastantes culturas e estilos de vida: o que hoje é protagonista, amanhã pode ficar nos bastidores. A maneira ambígua como as relações sociais fluídas incidem sobre o indivíduo, produzindo um self reflexo e múltiplo, parece ser a matriz da personalidade destes tempos e moldar as relações humanas e as linhas ténues que as sustentam. Gjerde referia, em 2004, que a modernidade líquida é uma metáfora que reflecte o mundo progressivamente com menos limites em que vivemos. Será isto positivo e/ou negativo? A que se devem essas fragilidades e que consequências se seguem? Estamos, cada vez mais, à distância de um clique e, ainda assim, muito parece falhar. Será medo da falta de novidade ou cansaço da rotina? Não se pretende aqui uma generalização abusiva acerca do modo de funcionamento da sociedade, mas apenas evidenciar esta passagem do tempo e o comportamento instável, ávido, imediato do ser humano perante a mesma, em que futuro incorre, cada vez mais, para o passado. Mas não terá sido sempre assim? Já diziam os Taxi, banda portuguesa de rock do Porto, “e como tudo que é coisa que promete, a gente vê como uma chiclete, que se prova, mastiga e deita fora, se demora”. Do que quer que se trate é melhor que se apresse, e que caia em boas graças.
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