O meio-termo entre a Formiga e a Cigarra
- o pátio - comunidade
- 2 de set. de 2018
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“Num dia soalheiro de Verão, a Cigarra cantava feliz. Enquanto isso, uma Formiga passou por perto. Vinha estafada, carregando penosamente um grão de milho que arrastava para o formigueiro.
- Por que não ficas aqui a conversar um pouco comigo, em vez de trabalhares tanto? – perguntou-lhe a Cigarra.
- Preciso de arrecadar comida para o Inverno – respondeu-lhe a Formiga. – Aconselho-te a fazeres o mesmo.
- Porque me hei-de preocupar com o Inverno? Comida não nos falta... – respondeu a Cigarra, olhando em redor.
A Formiga não respondeu, continuou o seu trabalho e foi-se embora. Quando o Inverno chegou, a Cigarra não tinha nada para comer. No entanto, viu que as Formigas tinham muita comida porque a tinham guardado no Verão. Distribuíam-na diariamente entre si e não tinham fome como ela. A Cigarra compreendeu que tinha feito mal.”
Provavelmente, a maior parte de nós ainda se lembra da Fábula d’A Cigarra e a Formiga. Na sequência de uma notícia que partilhámos há uns dias, que abordava a dificuldade que temos em desligar do trabalho e em como isso afecta a nossa saúde, achámos pertinente pegar nesta fábula e desconstruí-la.
Num extremo temos a Formiga que passa o Verão a trabalhar, preocupada em garantir que tem comida no Inverno, no outro extremo temos a Cigarra que passa o Verão a cantar e só pensa a curto prazo. Aquilo que nos foi ensinado com esta fábula é que é importante trabalharmos e pensarmos a longo prazo. No entanto, existe um outro lado. É, também, essencial conseguirmos desligar do trabalho e ter momentos de lazer.
Num período em que alguns ainda estão de férias e outros já as terminaram tendo regressado ao trabalho, podemos aproveitar para fazer uma reflexão sobre esta questão. Por um lado, tal como abordado na notícia que partilhámos na página, há uma dificuldade cada vez maior em desligarmos do trabalho nas férias e isso prejudica a nossa saúde e a nossa sensação subjetiva de descanso. Torna-se crucial treinarmos a capacidade de desligar, de forma a sentirmos que descansámos realmente e que aproveitámos o período de férias. Por outro lado, estando de regresso ao trabalho, importa manter o equilíbrio entre o trabalho e os momentos de lazer ao longo da semana.
António Branco Vasco aborda as necessidades psicológicas, sugerindo sete polaridades de necessidades. Uma delas é a polaridade Produtividade – Lazer, que pode ser aplicada neste exemplo. A produtividade refere-se à capacidade de concretizar obras e feitos sentidos como valiosos e o lazer refere-se à capacidade de relaxar e de desfrutar de actividades não-produtivas sem culpa associada. Para aumentarmos o nosso nível de bem-estar, é necessário haver um equilíbrio entre estas duas necessidades.
A Formiga está focada na produtividade e a Cigarra no lazer, não havendo assim um equilíbrio em nenhum dos casos. Vamos então reformular a aprendizagem que retiramos desta fábula: não sejamos a Formiga nem a Cigarra, sejamos o meio-termo entre elas.
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